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sexta-feira, março 29, 2024

2005 e 2014: xenofobia e indiferença ainda são realidade em SP

Os avanços nas políticas públicas em prol dos migrantes podem ser facilmente notados em São Paulo, mas expressões de xenofobia e indiferença contra eles ainda são uma triste realidade em uma metrópole que tem tudo para fazer valer e aproveitar seu potencial cosmopolita.

O mais recente (que se tem notícia) ocorreu na última sexta-feira (11). Um jovem chinês, aparentando 20 anos, foi assaltado e agredido por bandidos na estação Luz do metrô de São Paulo. Como se não bastasse, ainda foi hostilizado pelos seguranças do metrô: “A culpa é ‘desses coreias’. Esse pessoal vem de fora e fica andando com o bolso cheio de dinheiro por aqui, aí, dá nisso”.

O relato completo sobre o incidente está no Blog do Sakamoto, que desde ontem circula nas redes sociais.

Assim que li, lembrei de um comentário xenófobo que ouvi de uma pessoa considerada “esclarecida”, em setembro de 2005. Eu trabalhava como empacotador em um mercado atacadista na Mooca, zona leste de São Paulo, e já me chamava a atenção os comerciantes chineses, coreanos, sírios e libaneses que iam ao local atrás de mercadorias para seus estabelecimentos. Também me chamava a atenção os bolivianos, muitos deles moradores da vizinhança: em geral faziam as compras em grupos, pouco falavam com outras pessoas que não eram bolivianos e tinham um olhar assustado, como se após cada esquina pudessem encontrar uma ameaça, algo do qual fugir.

Esse homem, frequentador assíduo do mercado na época e também morador da região, era chamado de “professor” pelos mais chegados. Um belo dia, ao ajudá-lo com suas compras, ouvi dele um comentário ao ver uma família boliviana inteira se dividindo para levar os produtos que tinham acabado de comprar: “Esses bolivianos chegam aqui para roubar nossos empregos, a escola dos nossos filhos… O que eles têm que fazer aqui, por que não ficam lá naquela terra deles em vez de se aproveitarem do que é nosso?”

Adendo: o referido professor era filho de imigrantes árabes. Então teria seu pai também “roubado emprego e escola” de brasileiros para se estabelecer em São Paulo?

Naquela época eu nem sonhava em acompanhar migrações, mas o comentário me incomodou bastante. E voltou à minha cabeça logo que li sobre ocorrido com o jovem chinês na última sexta-feira. Os avanços foram obtidos, muitos deles aqui na capital paulista. Mas muito ainda precisa ser mudado não apenas em políticas públicas, mas sobretudo na mentalidade da sociedade. E esses dois episódios mostram o quão longo e duro será tal processo.

 

 

 

 

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