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quinta-feira, março 14, 2024

Especialistas veem EUA criminalizarem estudantes internacionais com ameaça de deportação por aulas online

Instituições de ensino veem a medida como forma de o governo Trump pressionar pela reabertura dos campi mesmo em meio à pandemia de coronavírus

Atualizado às 16h00 de 8.jul.2020

O governo dos Estados Unidos determinou na última terça-feira (7) que estudantes internacionais que tiverem suas aulas totalmente online devido à pandemia do novo coronavírus, a partir de setembro, vão ter que deixar o país.

De acordo com a Agência de Imigração e Alfândega (ICE), a medida vale para estudantes com os vistos F-1 e M-1 a partir da retomada do ano letivo. Quem quiser permanecer em território americano precisa transferir a matrícula para uma escola ou universidade com aulas presenciais.

Do contrário, as autoridades imigratórias dos EUA podem aplicar sanções que incluem a remoção ao país de origem. O comunicado da ICE não dá maiores detalhes do porquê da decisão.

Instituições reagem

Universidades de renome internacional sediadas nos Estados Unidos tem anunciado que retomarão atividades em setembro no formato online. Ou seja, estudantes de outros países matriculados nessas instituições serão afetados pela decisão.

Já nesta quarta-feira (8), duas das mais famosas universidades do mundo — Harvard e MIT — decidiram processar a administração de Donald Trump pela medida.

Segundo reportagem do portal NBC, a medida tem sido vista como uma maneira do republicano pressionar faculdades e universidades a reabrir seus campi com aulas presenciais durante a pandemia.

“O efeito – e talvez até o objetivo – é criar o máximo de caos possível para universidades e estudantes internacionais”, diz o processo movido pelas universidades, de acordo com a NBC.

Criminalização de estudantes internacionais

Para Erika Robb Larkins, antropóloga e professora da Universidade Estadual de San Diego, a mais recente medida do governo dos EUA sugere que tais estudantes “não são membros valiosos das nossas comunidades universitárias e que não são bem-vindos em nossos bairros e cidades também”.

A docente, que também dirige o Centro de Estudos Brasileiros Behner Stiefel na mesma universidade, ressalta que tal postura “não reflete, nem de perto, a posição de seus colegas, do corpo docente que os ensina, e das comunidades onde esses estudantes vivem e contribuem”.

“Além de criminalizar estudantes internacionais de forma absurda e sem justificativa plausível, a medida recente da ICE falha em reconhecer a contribuição valiosa que esses estudantes trazem para as salas de aulas das universidades. Sem contar que esses estudantes internacionais fizeram um investimento — tanto do ponto de vista acadêmico quanto financeiro — nas comunidades onde se encontram e no país como um todo”, complementa a antropóloga.

Trump x imigrantes

A medida contra estudantes estrangeiros representa mais um passo no cerco à imigração imposto pelo presidente Donald Trump ao longo de seu mandato. O republicano, que tenta a reeleição à Casa Branca neste ano, tem no tema uma de suas principais bandeiras — que dialoga fortemente com grupos de direita e extrema-direita.

“A decisão de mudar as regras de vistos para estudantes (vistos F-1 e M-1), durante as férias escolares e em meio à pandemia, é uma medida eleitoreira. Faz parte da estratégia de Trump de se aproximar de sua base com uma retórica divisiva”, analisa Ana Cernov, cientista social brasileira residente em Los Angeles e integrante do Coletivo Por Um Brasil Democrático na cidade.

O novo golpe contra os imigrantes nos Estados Unidos vem um dia após o anúncio do resultado de uma pesquisa que notou, pela primeira vez, um aumento no número de cidadãos no país simpáticos à vinda de imigrantes.

Segundo levantamento do Instituto Gallup, 34% dos americanos são favoráveis à expansão da imigração para os EUA, enquanto 28% gostariam que ela diminuísse. Quase 8 em 10 entrevistados (77%) disseram acreditar que a imigração é boa para o país.

A política anti-imigração de Trump também sofreu um revés recente da Suprema Corte dos Estados Unidos — que equivale ao Supremo Tribunal Federal no Brasil.

Em junho, a Corte impediu o presidente de encerrar o Daca, projeto do governo do antecessor Barack Obama que impede a deportação de mais de 600 mil imigrantes que entraram de forma irregular no país quando eram crianças.

Ana espera ainda que tal percepção mais positiva sobre a migração se traduza em ações concretas de apoio aos imigrantes no país. “Isso certamente teria uma reflexo importante em outros países que olham os EUA como modelo, incluindo o Brasil”, completa.


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