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quinta-feira, março 28, 2024

Estudo traça perfil de venezuelanos que recorrem ao empreendedorismo no Brasil

Alimentação e serviços pessoais são os principais setores optados pelos empreendedores venezuelanos tanto em São Paulo quanto em Boa Vista.

O empreendedorismo tem sido uma saídas procuradas pela comunidade venezuelana no Brasil para se manter economicamente. E um estudo realizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) e Cáritas, traça um perfil dos que recorrem a essa atividade.

O levantamento, lançado na última quarta-feira (23), mapeou 89 empreendimentos tocados por venezuelanos em São Paulo e Boa Vista (clique aqui para acessar e baixar). Doze desses empreendedores foram entrevistados com profundidade. As duas capitais estão entre as que mais contam com venezuelanos residindo no Brasil.

São diversos os fatores que incentivam a abertura de negócios próprios por venezuelanos. Eles envolvem o apoio na interiorização, o uso de ferramentas de propaganda e redes sociais para impulsionar o empreendimento, o empoderamento do refugiado, apoio familiar e de compatriotas. Há ainda o apoio de comunidades virtuais e instituições que promovem ações a favor dos imigrantes e refugiados.

“É importante entender o empreendedorismo como uma inclusão econômica e compreender o perfil dos refugiados e imigrantes venezuelanos no Brasil para poder mapear os obstáculos, saber como é a abertura e consolidação dos empreendimentos e também ampliar os fatores facilitadores para superar os todas as dificuldades”, afirma Nikolas Pirani, economista do Acnur.

Perfil dos empreendedores

De acordo com o levantamento, 42,9% dos empreendedores atuam no setor de alimentação e bebidas em São Paulo, enquanto 41,7% estão em Boa Vista; 17,9% atuam no setor de serviços especializados e 10,7% no de serviços pessoais, enquanto 16,7% dos empreendedores em Boa Vista atuam em serviços pessoais e 16,7% com vendas.

A maioria dos empreendedores venezuelanos têm alta escolaridade, com 20 a 40 anos de idade, e se enquadra no gênero masculino. No entanto, a pesquisa traz um detalhe particular para o perfil feminino que, diferente dos homens, tem um percurso migratório distinto e entraves que precisam de atenção específica.

Há ainda uma questão particular às mulheres migrantes que são mães: além de terem papéis ativos em seus negócios, carregam preocupações e responsabilidades emocionais com relação à maternidade.

Outra observação importante é que 70% dos entrevistados já tinham contato com ações empreendedoras, ou seja, já chegam como mão de obra qualificada ao Brasil.

Presença venezuelana no Brasil

Nos últimos anos, a migração venezuelana foi intensificada na América do Sul. Segundo os dados do Acnur, mais de 5 milhões de venezuelanos já saíram de seu país de origem.

Somente no Brasil, atualmente há 264 mil venezuelanos em situação de refúgio e migração. De um total de 50 mil pessoas devidamente reconhecidas como refugiadas no país, cerca de 90% (46 mil) são de nacionalidade venezuelana.

De acordo com o Conare (Comitê Nacional para Refugiados), atualmente há 193.737 pedidos de refúgio no Brasil ainda em andamento. Desses, mais de 104 mil solicitações — ou seja, 53,7% do total — são de venezuelanos.

Segundo a pesquisa, enquanto Roraima é referência para a migração que acontece à pé, de Venezuela a Brasil, São Paulo recebe mais imigrantes e refugiados, por via aérea, que decidem iniciar seus negócios próprios por ter potencial para atividades empreendedoras.

Dificuldades

Dentre os principais obstáculos enfrentados pelos imigrantes e refugiados venezuelanos para abrirem seus negócios, estão: a falta de informação sobre documentações necessárias para empreender, as barreiras linguísticas, o alto custo de vida na capital, o preconceito, o abalo emocional e as dificuldades de acesso ao crédito (pelo processo burocrático).

É comum identificar preconceitos na população venezuelana que se estabelece no Brasil, como possível ameaça social. Contudo, a pesquisa aponta que tal ideia é distorcida e que os migrantes e refugiados podem desenvolver o país, inclusive, de ponto de vista econômico, cultural, social e político. O empreendedorismo seria um desses caminhos, gerando empregos e permitindo a circulação do mercado.

É importante ressaltar que grande parte dos negócios não conta com funcionários, e sim com familiares. Existe também uma tendência de os venezuelanos contratarem outros venezuelanos para manter a originalidade e identidade do local, o que acaba chamando a atenção e atraindo imigrantes de outras nacionalidades.

Segundo a coordenadora de políticas de refúgio do Ministério da Justiça, Gabriella Vieira, a tendência é que os negócios cresçam e contratem ainda mais brasileiros. “Mesmo aqueles que não optam o caminho do empreendedorismo passam a se estabelecer em trabalhos não realizados pela população brasileira”.

Reinvenção na pandemia

Terapeuta de formação, a venezuelana Yilmary de Perdomo é uma das empreendedoras mapeadas pelo estudo. Proprietária do restaurante Tentaciones de Venezuela, que atua em São Paulo, informa que a pandemia gerou desespero no início, mas que o dever do empreendedor é se reinventar.

“Hoje trabalhamos em três pilares fundamentais: delivery, congelados e eventos online. Acredito que não somente eu, mas muitos empreendedores estejam no mesmo processo de se reinventar.”

Os refugiados e imigrantes têm a tendência de se conectar e ajudar um ao outro, compartilhando informações necessárias para tentar manter a vida estável.


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