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quinta-feira, abril 18, 2024

Feira gastronômica em SC traz sabores, história e empreendedorismo de imigrantes

Evento chega à sua quarta edição em Florianópolis, aliando diversidade cultural, integração e geração de renda

Por Sansara Buriti*
Em Florianópolis (SC)

Há dois anos, Hisham Yasin e mais seis familiares deixaram Damasco, capital da Síria, por causa da guerra. No Brasil, ele começou uma nova vida preparando antigas receitas de doces árabes, que puderam ser degustados durante a 4ª Feira Gastronômica dos Imigrantes, realizada no dia 10 de setembro, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis.

“Sinto muita falta dos meus amigos, vizinhos, de tudo. Na Síria, eu já trabalhava com doces há 15 anos. Preparo receitas tradicionais que não levam leite nem ovos na massa, e os recheios são de vários sabores, como pistache, damasco e avelã. Estou feliz em participar desta feira, está muito linda. Tem gente de várias nacionalidades, nem precisa viajar, o mundo todo está aqui”, brinca Hisham.

Além dos doces de Hisham, a feira reuniu a culinária típica de outros dez países: Kosovo, Argentina, Colômbia, Portugal, Líbano, Marrocos, Itália, Peru, Espanha e Senegal. O objetivo do evento é valorizar a diversidade cultural, integrar e gerar renda para imigrantes e refugiados. A média de público é de 5 mil pessoas por edição.

Público circula pela Feira Gastronômica dos Imigrantes de Florianópolis.
Crédito: Sansara Buriti

“Eles apresentam suas culturas, falam sobre suas origens. Isso contribui para que a população da cidade valorize e veja os imigrantes e refugiados de forma positiva, não como um problema para a sociedade. Muitos não contam com uma rede de amigos ou família, então a feira é uma maneira de gerar trabalho e renda, e incentivá-los a continuar empreendendo depois do evento”, explica a cientista social e idealizadora do projeto, Carolina Becker Peçanha, que pretende realizar outras ações de integração na capital catarinense.

Noventa por cento do valor arrecadado vai diretamente para os imigrantes. O restante é aplicado em um fundo de ajuda disponível para a compra de ingredientes e equipamentos, por exemplo. Para participar da feira, que ocorre a cada três ou quatro meses, é preciso se inscrever em um edital.

“Tentamos mesclar imigrantes que já possuem um negócio com os que ainda não tem nada, pois a ideia é que os mais estabelecidos possam ajudar os que estão começando a empreender”, afirma Carolina.

Participando da feira pela primeira vez, a colombiana Sara Torres estava animada com a venda de arepas, uma espécie de bolinho feito de milho branco e recheios variados.

“As arepas vegetarianas e as de carne desfiada foram as que mais saíram até agora. Este ano não consegui nenhum trabalho fixo. Mas tenho o dom de cozinhar e estou investindo nessa área. Comecei a vender pacotes de massa de arepa na Universidade Federal de Santa Catarina e me inscrevi na feira. Estou feliz em ver todos compartilhando esse momento de alegria, pois todos somos humanos, temos que nos dar as mãos”, diz a colombiana.

O tempero da comida da barraquinha do Senegal despertava a curiosidade dos clientes de Dieye Kara. Alguns puxavam conversa para perguntar sobre os ingredientes.

Dieye Kara, do Senegal.
Crédito: Sansara Buriti

“Cada cultura tem sua própria comida. Arroz é arroz, legumes são legumes, mas o jeito de preparar é que faz toda a diferença. Estou participando da feira pela primeira vez, espero continuar nas próximas edições”, diz o senegalês.

Depois de morar por vinte anos na Espanha e em Portugal, o marroquino Abdelaziz Bahsain veio para o Brasil junto com a esposa brasileira Angela Prata. Em Florianópolis, ele trabalha com gastronomia, pintura e produção de peças decorativas em madeira reciclada.

A brasileira Angela Prata e o marido marroquino, Abdelaziz Bahsain.
Crédito: Sansara Buriti

“A Europa está cada vez mais fechada. Imigrantes e refugiados são uma riqueza para qualquer país. Os países que receberem e orientarem essas pessoas terão um bom futuro, pois serão formados por uma fusão de inteligências de várias partes do planeta”, acredita Abdelaziz.

A próxima edição da Feira Gastronômica dos Imigrantes, que também abre espaço para apresentações musicais de artistas brasileiros e estrangeiros, está prevista para o mês de dezembro.

 

Sansara Buriti é jornalista e documentarista e membro da coordenação do Grupo de Apoio a Imigrantes e Refugiados em Florianópolis (GAIRF)
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