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quinta-feira, abril 18, 2024

Festival VIVA! Itália celebra cultura italiana e lota o Museu da Imigração

Cerca de 3.000 pessoas participaram da festa. Além das homenagens à Itália, evento permitiu pontes entre o passado e o presente das migrações

Por Rodrigo Borges Delfim

Em meio à programação de Carnaval que já toma conta de São Paulo, o Museu da Imigração promoveu neste domingo (19) um evento que homenageia a cultura italiana, uma das mais presentes na formação da atual sociedade paulistana e paulista.

O Festival VIVA!, que estreou trazendo a Itália como tema, atraiu milhares de pessoas aos jardins e demais dependências do Museu, além do restaurante utilizado pelo Arsenal da Esperança – entidade que divide com o Museu o edifício da antiga Hospedaria do Brás. De acordo com a organização, pelo menos 3.000 pessoas participaram da festa, entre famílias inteiras, descendentes diretos ou indiretos de italianos e demais fãs da cultura do país. Cerca de 600 entradas tinham sido vendidas antecipadamente pela internet.

Bandeira italiana foi estendida no Museu da Imigração durante o VIVA! Itália.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo

O VIVA! Itália contou com uma série de atrações gastronômicas e culturais (dança e música) de diferentes regiões da Itália, como Vêneto, Nápoles, Sicília, Calábria e Abruzzo. Também era possível participar de rodas de conversa e sessões de cinema relacionadas à Itália, obter orientação sobre como buscar informações sobre antepassados que teriam passado pela antiga Hospedaria e encontrar atrações voltadas para crianças.

O tamanho do público surpreendeu alguns dos expositores. A Cannoleria Brasil, de Campinas (SP), por exemplo, trouxe 800 cannolis para a festa, que se esgotaram em menos de quatro horas. Para adquirir algumas das principais iguarias disponíveis, como pizzas, massas e sorvetes (e os próprios cannolis), era preciso certa dose de paciência para encarar o calor e longas filas. Mas a maioria do público parecia não se importar com esses fatores.

“Por ser uma primeira festa, acho que superou as expectativas. Acredito que se ela crescer, pode se tornar uma festa tradicional. É o tipo de evento do qual gostamos de participar”, afirmou Emilia Cairo, italiana que chegou ao Brasil com oito anos e é presidente do Circolo Sociale Calabrese di San Paolo. A entidade é responsável pelo grupo folclórico La Bella Italia, fundado em 1991 e que foi uma das atrações da festa.

Grupo Folclórico La Bella Italia foi uma das atrações do festival VIVA!Itália, que lotou o Museu da Imigração.
Crédito: José Luiz Altieri Campos/Arsenal da Esperança – fev. 2017

“Esse tipo de festa é de suma importância, porque você está mostrando o patrimônio do país a partir da dança, das comidas, do idioma, do cinema. Isso é mostrar esse patrimônio para as novas gerações, que precisam conhecê-lo”, completou Emília, que destacou as dificuldades que grupos folclóricos enfrentam para se manter pela ausência de patrocínios, por exemplo.

Estima-se que cerca de 32 milhões de descendentes de italianos residam atualmente no Brasil, sendo 13 milhões somente no Estado de São Paulo. Os ítalo-brasileiros são considerada a maior população de descendentes fora da Itália.

Sorvetes, massas, bebidas e cafés foram algumas das atrações gastronômicas da festa.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo

Buscando as origens

Entre os presentes ao VIVA! Itália estava a advogada carioca Valeska Rossi, que ficou sabendo do evento há duas semanas, quando veio pela primeira vez o Museu, aproveitando visita a familiares em São Paulo. “Era meu sonho vir aqui, passei a tarde toda aqui e aí me avisaram do festival e acompanhei a informações a partir do Facebook. Foi uma experiência bem forte e enriquecedora vir aqui e gostei muito do evento”.

Bisneta de italianos da região de Nápoles, ela também busca informações sobre como poderia obter a cidadania italiana, a partir de dados sobre a chegada de seus antepassados ao Brasil. “Meus bisavós se conheceram em um barco vindo para o Brasil, parecia história da novela Terra Nostra [exibida pela TV Globo entre 1999 e 2000, que parte da história de dois jovens italianos que se conheceram em um navio a caminho do Brasil e se apaixonaram]. Eles chegaram aqui, se casaram e tiveram 13 filhos, entre ele o meu avô”.

A dúvida de Valeska é algo comum entre as pessoas que procuram saber sobre a trajetória dos antepassados até o Brasil. O Museu conta com um serviço no qual os descendentes de italianos e de outras nacionalidades podem buscar informações sobre a origem de cada um – e que foi bem concorrido durante o VIVA! Itália.

“A maior demanda são as pesquisas sobre origem e família. A grande dúvida é sobre a origem do imigrante e a cidade onde ele nasceu, que é um dado que poucas pessoas possuem. Tem pessoas que só sabem o sobrenome, mas tem outras que sabem até o número do barco no qual ele veio e querem informações adicionais. A maioria são pessoas que estão buscando uma cidadania italiana ou portuguesa, principalmente”, conta Henrique Trindade Abreu, do Centro de Pesquisa, Preservação e Referência do Museu da Imigração, que atendeu cerca de 40 pessoas ao longo da festa – em geral são em torno de cem pesquisas presenciais por mês no Museu, fora os pedidos online e por telefone.

“As pessoas ficam muito felizes quando conseguem essas informações. Não é muito comum, mas hoje mesmo teve uma pessoa que chegou a chorar de emoção ao ver os registros”, completa Trindade.

Ponte para o presente e para o futuro

Quem participou do VIVA! Itália teve ainda oportunidade de conhecer o refeitório do Arsenal da Esperança, que serviu como restaurante durante a festa – mesma função que exerce durante a Festa do Imigrante, organizada anualmente em conjunto com o Museu da Imigração.

O Arsenal da Esperança é uma casa que acolhe 1.200 pessoas todas as noites, especialmente aquelas que estão em situação de rua. Cerca de 300 desses acolhidos pelo Arsenal são pessoas de outras nacionalidades que chegam ao Brasil em busca de uma nova vida, fazendo com que a antiga Hospedaria mantenha parte de seu uso original.

Refeitório do Arsenal da Esperança, usado diariamente por 1.200 pessoas (inclusive imigrantes) e que serviu de restaurante no VIVA! Itália.
Crédito: José Luiz Altieri Campos/Arsenal da Esperança

“É engraçado que muitas pessoas não sabem que o prédio ainda é usado para o que ele foi construído. Até mesmo pessoas que já frequentam o Museu ainda não conhecem esse espaço ou não sabem como ele é utilizado”, conta Everton Furlan, voluntário do Arsenal da Esperança há dez anos.

“Quando a pessoa vem ao Museu e passa para o Arsenal em eventos como esse, ela passa do passado para o presente. Nisso, muitas pessoas resolvem voltar aqui e até se tornam voluntárias do Arsenal, ajudando a construir histórias futuras”, destaca o voluntário.

2 COMENTÁRIOS

  1. Gostaria do contato do entrevistado Henrique Trindade para auxílio em pesquisa no Museu da Imigração.

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