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sexta-feira, abril 19, 2024

“Nação Arco-Íris”, África do Sul volta a mostrar lado sombrio com xenofobia

Violência que atinge imigrantes de outros países africanos na África do Sul se repete e é considerada uma das “heranças malditas” do regime do apartheid

Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)

Desde o final de agosto, a África do Sul tem sido palco de uma série de casos de violência contra estabelecimentos de imigrantes, gerando reações dentro e fora do país.

Os incidentes se concentraram em Joanesburgo (capital comercial e maior cidade), Pretória (a capital administrativa), ambas na província de Gauteng. Os crimes vão de incêndio e saqueamento de lojas de imigrantes a assassinato.

Cerca de dez pessoas de diferentes nacionalidades – não divulgadas pelo governo – morreram desde então e outras 420 pessoas foram presas.

De acordo com agências internacionais, centenas de imigrantes – de países como Moçambique, República Democrática do Congo, Zâmbia, Zimbábue, Nigéria, entre outros – buscaram abrigo em igrejas, mesquitas e delegacias de polícia.

Embora tenha o apelido de “nação arco-íris devido à sua diversidade étnica e cultural, além de ter recebido uma das edições do Fórum Social Mundial de Migrações (Joanesburgo, 2014, acompanhada pelo MigraMundo), a África do Sul coleciona manifestações de xenofobia.

Em 2015, poucos meses após o Fórum, a cidade de Durban foi o palco principal para uma série de agressões que deixou seis mortos e desalojou pelo menos 5.000 pessoas.

Em 2008, ano da pior onda de ataques, 60 pessoas foram mortas na township de Alexandra, nos arredores de Joanesburgo –para comparação, entre 2000 e 2008 tinham sido 67 registros. Barracos, estabelecimentos comerciais de imigrantes eram atacados e depredados.

Só neste ano, segundo o portal Xenowatch, que monitora ocorrências de xenofobia no país, foram 40 casos – a média anual fica entre 50 e 60.

Especialistas ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo apontaram a xenofobia sul-africana como resultante de uma série de fatores: o país é o mais desigual do mundo, de acordo com o World Inequality Report; o alto desemprego, que fica na faixa de 28%, e que beira uma média de 50% quando é considerada apenas a população negra; e a herança do apartheid, que deixou um racismo estrutural que se volta contra os negros de outros países africanos.

“Nenhuma forma de raiva, frustração ou lamentação pode justificar estes atos de destruição e criminalidade arbitrária. Não pode haver desculpa para os ataques a residências e empresas de estrangeiros, assim como não pode haver desculpa para a xenofobia ou qualquer forma de intolerância”, afirmou o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

O discurso anti-imigração, no entanto, é explorado pelos políticos sul-africanos em suas campanhas eleitorais, incluindo o próprio presidente e o prefeito de Joanesburgo, Herman Mashaba.

Reações

A violência contra imigrantes – e a resposta tímida do governo sul-africano – já geram reações em outros países do continente, em áreas distintas como economia, relações internacionais e até no esporte.

A Nigéria, que já vive um momento de relações tensas com o governo sul-africano, boicotou um fórum econômico na semana passada que aconteceu na Cidade do Cabo.

As seleções de futebol da Zâmbia e de Madagascar cancelaram jogos amistosos previstos com os sul-africanos. A companhia aérea Air Tanzania decidiu suspender temporariamente seus voos em direção ao país.

A cantora nigeriana Tiwa Savage decidiu também cancelar show que tinha agendado para o próximo dia 21 em Joanesburgo em repúdio à onda de violência.

Retornos forçados

Diante da nova onda de xenofobia, migrantes que vivem na África do Sul tem preferido deixar o país.

De acordo com a RFI (Rádio França Internacional), o governo nigeriano deve ainda nesta semana promover o repatriamento de 600 cidadãos que vivem atualmente na África do Sul.

O mesmo movimento, também de acordo com a RFI, foi feito nesta semana por 397 cidadãos de Moçambique – os moçambicanos foram uma das maiores comunidades migrantes na África do Sul, estimada em 2 milhões de pessoas.

Com informações de Deutsche Welle, Folha, O Globo e RFI

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