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sexta-feira, março 15, 2024

Projeto busca transformar imigrantes em embaixadores culturais e empreendedores

Raízes na Cidade, uma parceria entre Migraflix e Airbnb, capacita imigrantes para que possam oferecer atividades culturais baseadas em suas vivências culturais

Por Rodrigo Veronezi
Em São Paulo (SP)

Transformar a história de vida dos imigrantes e sua bagagem cultural em uma forma de empreendedorismo que gera renda, trocas culturais e empatia. Este é o objetivo buscado pelo projeto Raízes na Cidade, uma iniciativa do Migraflix em parceria com o Airbnb em São Paulo.

O projeto visa capacitar refugiados e imigrantes que vivem na capital paulista para que se tornem empreendedores culturais e anfitriões da categoria de Experiências do Airbnb, oferecendo atividades culturais relacionadas às suas histórias de vida e de seus países. O leque é amplo e contempla gastronomia, dança, música, poesia, teatro – ou mesmo tudo isso em um mesmo pacote, dependendo da proposta.

O programa reúne 50 imigrantes, definidos a partir de um processo de seleção que começou ainda no final de 2018. O pontapé inicial ocorreu na última quinta-feira (14), em evento no Museu da Imigração que reuniu os selecionados e demais convidados – o MigraMundo acompanhou a atividade.

De março a maio, os selecionados participarão de encontros semanais, aos sábados, em diferentes locais da cidade, com  atividades de enfoque cultural, desenvolvimento pessoal e artístico, e de empreendedorismo. A primeira aula aconteceu já neste sábado (16), no auditório da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

Ao final do curso, os participantes devem apresentar uma proposta de atividade relacionada às suas raízes culturais e histórias de vida. Todos eles receberão um certificado de anfitriões de Experiências do Airbnb na categoria de Impacto Social, podendo oferecer pela plataforma suas experiências culturais para quem mora ou visita a capital paulista.

“Os brasileiros têm muito a ganhar. Tem um potencial enorme para crescer com o conhecimento de cada um de vocês e com a valorização que merecem”, disse o empreendedor argentino Jonathan Berezovsky, diretor do Migraflix.

Os imigrantes selecionados representam 20 países, dando mais uma ideia da diversidade presente na capital paulista: Cuba, México, Nicarágua, Angola, Uganda, Haiti, Bolívia, Colômbia, Jordânia, República Democrática do Congo, Peru, Síria, Líbano, Togo, Taiwan, China, Chile, Irã e Guiana. Entre os 50 participantes, mais da metade são mulheres (52%).

Imigrantes e convidados do Raízes na Cidade fazem visita guiada pelo Museu da Imigração. Atividade fez parte da programação.
Crédito: MigraMundo

“São Paulo tem uma mistura cultural enorme e as pessoas que contratarem vocês vão entender a cultura de vocês e essa mistura”, reforçou Adriana Lufti, da área de comunicação do Airbnb.

O iraniano Ali Entezari, que é advogado de formação e ensina caligrafia persa no Brasil, é um dos alunos do Raízes na Cidade. Ele espera aproveitar o programa para ajudar a contar um pouco mais sobre a terra natal, elaborando o que já chama de “noite persa.

“Muita gente pensa que o Irã é um país árabe, e não é. Temos algumas coisas em comum, mas nossa língua é o persa. Temos uma cultura milenar, muito rica, e quero mostrar isso – com música, gastronomia e história do país”, explica o iraniano.

Experiências culturais

O pontapé inicial do Raízes na Cidade contou com uma visita guiada dos imigrantes e demais convidados pelas instalações do Museu da Imigração – a instituição também vai receber uma das aulas itinerantes do projeto.

Quem acompanhou o evento de lançamento na cidade teve a oportunidade de conhecer uma amostra das experiência culturais possíveis. O poeta e escritor angolano Ermildo Panzo – ou simplesmente Ermi Panzo – declamou poemas e fez performances que exaltam a cultura negra, a força da mulher e as experiências vividas por imigrantes. Ele é um dos selecionados para o projeto.

O angolano Ermi Panzo deu uma amostra de seu talento durante o lançamento do Raízes na Cidade.
Crédito: MigraMundo

“Essa é a ideia: uma desconstrução de estereótipos e a valorização da cultura que agrega, aproxima as pessoas”, disse Panzo, que também divulga seu livro de poesias, intitulado “Desasossego”, lançado em 2018.

Alguns dos imigrantes que participam do Raízes na Cidade são egressos de um programa anterior do Migraflix, o Raízes na Cozinha – focado em experiências gastronômicas.

É o caso da terapeuta ocupacional venezuelana Yilmary de Perdomo, que tem na gastronomia uma de suas paixões – e que no Brasil se tornou sua atividade profissional.

A venezuelana Yilmary de Perdomo, que transformou a paixão pela cozinha em meio para se sustentar no Brasil.
Crédito: Pâmela Vespoli/MigraMundo – set.2018

“Tenho a gastronomia como paixão. No Brasil ela virou um negócio, sistematizado com a ajuda do Raízes na Cozinha – como vou produzir, para quem vou vender, onde e como vou distribuir. E o Raízes na Cidade faz uma projeção maior, a possibilidade de fazer as pessoas viajarem na cultura do seu país. Acho que esse é um impulso grande para nosso negócio”, explica Perdomo.

Um coquetel com comidas típicas de Síria, Colômbia e Peru, preparadas por imigrantes dos três países, encerrou a programação do evento.

Por uma sociedade mais harmônica

Desde que começou suas atividades, em setembro de 2015, o Migraflix aproveita a bagagem cultural dos próprios migrantes como elemento de inserção social e fonte de renda para os que integram o projeto.

As primeiras atividades do Migraflix foram workshops culturais ministramos por migrantes, especialmente na área de gastronomia. Com o passar do tempo, o leque se expandiu para eventos diversos – feitos sob medida para empresas – e parcerias com empresas como Google, LinkedIn e Airbnb.

Berezovsky lembra que o Raízes na Cidade – assim como outro projetos que valorizam a cultura dos imigrantes – ganha ainda mais importância diante de episódios como o atentado contra muçulmanos na Nova Zelândia, na última sexta.

O argentino Jonathan Berezovsky, do Migraflix, apresenta o projeto Raízes na Cidade. Crédito: MigraMundo

“Esse tipo de tragédia nos lembram da necessidade de continuar desenvolvendo iniciativas que promovem o dialogo intercultural e inter-religioso, não só para evitar um próximo massacre mas também para construir uma sociedade mais harmônica e mais rica a partir da valorização das culturas e dos conhecimentos das pessoas que chegaram no Brasil recentemente e que tem muito para nos ensinar.”

1 COMENTÁRIO

  1. Somos, uma Ilha Portuguesa, num oceano Espanhol, porque não aprender com nossos hermanos a falar, “hablar” como nossotros, e sermos um,a so ilha,por que? Comunidade Europeia, não comunidade,\ibero Portuguesa,, vamos desconstruir estereótipos, nos aproximar-mos como povos pessoas,(indigenas,negros,portugueses,alemães,italianos,espanhois, sirios,libaneses,jasponeses, e tantas outras nacionalidades, que por aqui aportaram…

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